O setor bancário, pela sua natureza competitiva e estruturada em metas de alto desempenho, pode tornar-se um terreno fértil para a prática de assédio moral. Embora a cobrança por resultados seja inerente a qualquer segmento que dependa de produtividade, a maneira como essa pressão é exercida faz toda a diferença no clima organizacional e na saúde mental dos trabalhadores. Quando ultrapassados os limites do respeito e da ética, a busca por resultados transforma-se em fonte de humilhações, constrangimentos e perseguições, afetando profundamente a vida pessoal e profissional dos colaboradores.
O que é assédio moral?
O assédio moral no trabalho consiste em expor um ou mais funcionários a situações vexatórias e reiteradas, com a intenção de desestabilizar emocionalmente, fragilizar e até mesmo desqualificar a vítima perante a equipe. Geralmente, ocorre em relações hierárquicas — como chefe e subordinado —, mas também pode manifestar-se entre colegas de mesmo nível, desde que haja comportamentos sistemáticos de perseguição ou isolamento.
Características do ambiente bancário
No contexto bancário, algumas características podem agravar esse quadro:
- Exigência de metas elevadas: Metas de vendas e desempenho, embora necessárias, podem ser usadas de forma abusiva pelos gestores, gerando pressão constante e ultrapassando a linha do razoável.
- Estrutura hierarquizada: Em bancos, a hierarquia costuma ser rígida, favorecendo comportamentos autoritários quando não há treinamento adequado para lideranças.
- Excesso de burocracia: Falhas nos processos internos e excesso de procedimentos podem levar a cobranças desproporcionais e injustas, dificultando o desempenho do trabalhador.
- Competitividade interna: A necessidade de fidelizar clientes e cumprir metas alimenta uma cultura em que a cooperação muitas vezes dá lugar à rivalidade, aumentando o risco de práticas abusivas.


Como o assédio moral se manifesta
No ambiente bancário, o assédio moral pode surgir de diversas formas. Algumas atitudes típicas incluem:
- Excesso de controle: Retirar ou reduzir a autonomia de um empregado, contestando cada decisão de forma desnecessária.
- Sobrecarga de trabalho: Atribuir tarefas extras constantes, além das funções originais, sem justificativa adequada.
- Críticas pessoais: Atacar a vida particular do empregado ou espalhar rumores para minar sua reputação dentro da equipe.
- Isolamento: Excluir a vítima das atividades em grupo, dificultando seu acesso a informações essenciais.
- Humilhações e ameaças: Expor o trabalhador a situações de ridículo ou fazer ameaças veladas de demissão.
Consequências para o trabalhador e para a instituição
A vivência constante de humilhações e constrangimentos pode desencadear problemas emocionais como ansiedade, depressão e síndrome do pânico, além de agravar doenças preexistentes. Esses impactos influenciam a vida pessoal e social do empregado, podendo levá-lo ao absenteísmo ou até ao abandono do emprego.
Para as instituições, os efeitos também são danosos. Um clima de trabalho tóxico tende a reduzir a produtividade, aumentar a rotatividade e, consequentemente, gerar custos com indenizações trabalhistas. Além disso, a reputação da empresa pode ficar comprometida tanto internamente quanto perante o mercado e a sociedade.
Como prevenir e combater
- Políticas de conscientização: Implantar programas de treinamento para líderes e colaboradores, reforçando valores como respeito, empatia e cooperação.
- Canais de denúncia: Criar canais seguros e confiáveis para que funcionários possam relatar práticas abusivas sem medo de represálias.
- Investigação e punição: As denúncias devem ser apuradas com seriedade e imparcialidade, garantindo a responsabilização dos envolvidos.
- Apoio psicológico: Oferecer assistência psicossocial aos funcionários vítimas de assédio e promover iniciativas de saúde mental no ambiente de trabalho.
Considerações finais
O assédio moral no setor bancário não é um fenômeno inevitável, mas um problema que pode — e deve — ser enfrentado por meio de políticas claras, cultura organizacional saudável e liderança comprometida com a dignidade de todos. Prevenir e combater práticas abusivas é não apenas uma questão de cumprimento legal, mas também uma forma de valorizar os profissionais e de garantir a sustentabilidade das instituições financeiras a longo prazo.