O cargo de confiança é uma figura jurídica prevista na legislação trabalhista brasileira, caracterizando-se, sobretudo, pelo poder de gestão, decisão e representação do empregador que é delegado ao empregado. Em termos práticos, significa que a empresa deposita, naquele profissional, um nível diferenciado de responsabilidade, autonomia e confidencialidade para o exercício de suas funções.
Para aprofundar o tema, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) disponibiliza em seu portal informações e entendimentos sobre o assunto. Confira em:
Cargo de Confiança – TST
O que é um cargo de confiança?
De acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o cargo de confiança se caracteriza por uma função de gestão ou chefia que envolve maiores responsabilidades, como controle de processos estratégicos, tomada de decisões em nome do empregador e eventual acesso a informações confidenciais. Em linhas gerais, o empregado de confiança atua como representante da direção da empresa, possuindo autonomia para conduzir tarefas e resolver problemas de maneira independente.
É importante destacar que o simples uso do termo “cargo de confiança” no contrato de trabalho não basta para o seu reconhecimento jurídico. O essencial é a prova das atividades efetivamente exercidas, pois a CLT e a jurisprudência exigem requisitos claros que demonstrem a legitimidade desse enquadramento.
Critérios para caracterizar um cargo de confiança
- Poder de decisão
É fundamental que o empregado tenha poder efetivo para tomar decisões que impactem o rumo da empresa ou de um setor específico. Geralmente, isso envolve a possibilidade de realizar contratações, demissões, negociar contratos, autorizar pagamentos, entre outras atribuições. - Autonomia e representação
O empregado de confiança atua em nome do empregador, representando-o diante de clientes, fornecedores e até mesmo de órgãos públicos. É crucial que haja, de fato, autonomia para implementar mudanças e executar estratégias, alinhadas aos objetivos da empresa. - Acesso a informações privilegiadas
Outro elemento é o acesso a dados ou processos internos sensíveis, como relatórios financeiros estratégicos ou informações sigilosas de clientes. Essa característica reforça a necessidade de confiança mútua entre empregador e empregado, pois envolve riscos e responsabilidades maiores. - Distinção hierárquica
O cargo de confiança, em geral, ocupa posição hierárquica superior aos demais empregados, o que pode se traduzir em poder de chefia, gestão de equipes ou coordenação de setores. Esse fator, por si só, não é determinante, mas costuma ser um indicativo importante da função de confiança.


Implicações trabalhistas
- Jornada de trabalho
A CLT (artigo 62) estabelece que, em determinadas situações, os empregados em cargo de confiança não estão sujeitos ao controle de jornada, deixando de receber horas extras. Contudo, é preciso verificar se há realmente incompatibilidade com o registro de ponto ou se a empresa ainda mantém controle sobre horários. Caso haja controle efetivo, o trabalhador pode ter direito a horas extras, a depender da análise judicial. - Remuneração diferenciada
Geralmente, o empregado de confiança recebe salário diferenciado, superior ao dos demais profissionais. Essa contraprestação visa compensar tanto o nível de responsabilidade atribuído quanto a própria falta de pagamento de horas extras, quando aplicável. - Quebra de confiança
Em um cargo de confiança, o rompimento do vínculo pode ocorrer quando houver perda da credibilidade depositada pela empresa, seja por condutas indevidas ou por atos que vão contra os interesses do empregador. Nesses casos, a dispensa pode ser justificada, dependendo das circunstâncias específicas.
Dicas para empresas e empregados
- Empresas: Ao designar um funcionário para cargo de confiança, formalize de maneira clara e objetiva as funções atribuídas e as responsabilidades inerentes. Isso pode evitar questionamentos judiciais futuros e garante maior transparência nas relações de trabalho.
- Empregados: Se você estiver assumindo um cargo de confiança, procure entender detalhadamente as atribuições e responsabilidades, bem como negociar uma remuneração e condições de trabalho compatíveis com a posição. Em caso de dúvidas sobre suas obrigações ou direitos (especialmente se houver eventual controle de jornada), vale a pena buscar orientação especializada.
Conclusão
O cargo de confiança é um instituto que possibilita maior liberdade para aqueles profissionais que, de fato, exercem funções estratégicas e decisórias dentro de uma empresa. Entretanto, para que essa condição seja reconhecida, é necessário cumprir determinados critérios previstos na legislação e na jurisprudência, como poder de decisão, autonomia e acesso a informações privilegiadas.
Fonte:
A correta compreensão do cargo de confiança favorece tanto os empregadores, que podem se valer de uma melhor organização interna, quanto os empregados, que têm maior consciência de seus direitos e deveres em um nível hierárquico diferenciado.